quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Matteo Perdeu o Emprego - Gonçalo M.Tavares



 

 Nome do leitor: Paula Isidoro

"Matteo Perdeu o Emprego" compõe-se de duas partes. A primeira é um conjunto de 25 contos muito curtos, em que personagens com nomes judaicos - retirados de um trabalho do fotógrafo Daniel Blaufuks - vivem situações caricatas ou absurdas.
Temos Cohen, académico cheio de tiques que sofre de copropraxia (repetição de gestos obscenos) e de um compreensível ostracismo social; temos Goldstein, um cego fascinado pelas substâncias raras (como o escândio) e pela tabela periódica, ao ponto de pedir ao seu amante para a tatuar, em Braille, nas suas costas; temos Helsel, cujo "hobby estúpido" consiste na recolha e armazenamento de baratas vivas num armazém rigorosamente monitorizado; ou Kashine, um rapaz de 16 anos que escreve "não" em tudo o que pode, lançando o caos à sua volta - porque basta acrescentar o não onde estava o sim "para dar início ao inferno, ao desassossego".
Há também rotundas reais e imaginárias, um labirinto perigoso e uma "barca da razão" que é só um navio dos loucos adiado.
Cada história encadeia-se na seguinte por via de um pormenor comum, um qualquer ponto de contacto, criando uma espécie de estafeta narrativa em que cada personagem passa o testemunho à personagem seguinte (cujo nome é assinalado a negrito, para vincar a transmissão). Aparentemente, o livro obedece a uma lógica circular e a uma ordem alfabética.
A personagem Matteo
Quando chegamos a Matteo, a "personagem central" (única com direito a uma história mais desenvolvida, em 12 capítulos) e suposto fim da linha, ele acaba por encontrar um tal Nedermeyer que assistiu, uma hora antes, ao atropelamento da primeira personagem, Aaronson.
Este aparente círculo pode, contudo, não passar de uma elipse. É pelo menos o que sugere o autor na segunda parte do livro, um brilhante posfácio que funciona como exegese do que acabámos de ler.





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